16 fevereiro 2010

"Deus, por favor, apareça na televisão!"

"Deus, por favor, apareça na televisão!”... Este verso de uma canção do Kid Abelha, para mim, ganhou um novo sentido depois de ver a "gospelização" da televisão. Transformou-se num clamor de desespero. Ou deveria. Estou cansado de ver o cristianismo ser chacoteado por causa do que mais aparece na caixa idiota, no micro-ondas do mal. Não, eu não quero que a mídia deixe de apresentar crimes e sem-vergonhezas de pastores, “apóstolos”, missionários e padres. Não; eu não vou esculhambar com a Globo por causa de “Ó Paí, Ó”. Eu quero é que os “representantes” do “cristianismo” televisivo tenham vergonha na cara e mudem de vida!

Dia desses eu conversava, até animadamente, com uma pessoa que não é evangélica, e, depois de eu responder que não era muçulmano (?!) e meu colega dizer "Não. Ele é evangélico.", ela jogou na minha cara a questão financeira: a primeira coisa que ela me perguntou depois de saber que eu era cristão (e foi com ironia) foi quanto eu dava para a igreja. E eu juro a vocês que eu me arrependo de não ter dito, mesmo estando em público, que isso não era da conta dela, porque ela não paga minhas contas e nem eu como às expensas dela (da próxima eu nem vacilo, digo mesmo).

Não se pode mais falar de Jesus!

O evangelho agora é visto como uma faceta do tema economia. E o mais interessante é que os evangélicos conseguimos ser tão vistos como uma simbiose de pilantras e idiotas que as pessoas até esquecem que sem-vergonhice e disfaçatez, além de burrice, ganância e hipocrisia não são exclusividade nossa. Infelizmente, parece que essa taça é nossa – se não por maioria de votos, é pelo IBOPE da TV.

Não estou querendo atacar igrejas ou religiões, tampouco menosprezar meus diletos irmãos em Cristo, mas, enquanto vejo ladrões na TV cometendo estelionatos religiosos e vendendo Deus como um produto (e não são apenas evangélicos), não posso esquecer que a venda de indulgências e outros escândalos e imoralidades não são realidade somente nossa.

Existem religiosos que condenam enriquecer e riquezas mas não são pobres: nadam em luxo, em seus palácios cobertos de ouro, enquanto suas ovelhas morrem de fome; existem os que usam o nome de Deus para manobras políticas por influência e domínio, mando e desmando e criações de doutrinas malucas; existem aqueles que enaltecem a ganância, a ambição, a usura, a avareza e não toleram a austeridade; e existem os que só enxergam a imundície na religião dos outros, e, sabendo que não é isto o que elas ensinam, usam as distorções que aparecem na mídia:

1. como munição para atacar pessoas sérias, que não compactuam com a injustiça (isto é, por sacanagem);

2. como forma de pré-julgar as pessoas antes de conhecê-las (isto é, por preconceito e burrice); e/ou

3. para “legitimar” sua própria vida de pecado (isto é, cinismo).

Esse tipo de gente cínica é da pior espécie, e, no fim, infelizmente, pode terminar se dando mal. Pois sabe o que é certo e bom, não pratica e ainda caçoa de quem tenta viver direito usando o mal exemplo de pessoas notoriamente más e pseudorreligiosas como escudo.

Esses "ministros de Deus" de TV que vivem mendigando dinheiro e prometendo prosperidade e bênçãos milagosas não repassam o que Jesus ensinou, não imitam seu exemplo de vida e são extremente arrogantes. Não são discípulos de Jesus, pois eles não pregam e não vivem o evangelho (1Timóteo 4.1-2; 1 João 2.18-19). Suas vidas, em sentido oposto ao da vida de Jesus, comprovam isso claramente, pois milagres e dons, por si sós, não são certeza de aprovação divina (Mateus 7.15-23; Mt 24.24; 2 Tessalonicenses 2.9-12): é aí que aumenta nossa responsabilidade em conhecer a palavra de Deus para saber discernir os espíritos e tomar decisões certas (Mateus 22.29; 1 João 4.1).

Eu posso ter meus pecados, mas não busco viver neles. Agora, por favor, não me ponham junto com um saco de enganadores ou extorquidos, pois disto eu não faço parte! Já me basta a vergonha de receber a mesma terminologia de "evangélicos" que eles recebem. Meus pais, mesmo não sendo “crentes”, me ensinaram a ter vergonha na cara e a não iludir as pessoas. Com certeza, certos falsos ministros também devem ter recebido essa lição dos pais deles. E, se não a põem em prática, eu não tenho nada a ver com eles. E menos ainda a minha fé tem a ver com a deles.

Quer saber o que é cristianismo? Não me pergunte. E não veja TV (Deus não aparece nela). Apenas não se faça de sonso, olhe para a vida de Cristo e sua palavra, e você terá sua resposta. Simples assim. Mas não venha transformar a boa mensagem do evangelho naquilo que você sabe que Jesus Cristo não ensinou, valendo-se de pessoas de má índole, que, nem de longe, merecem ser chamadas de discípulos dele (apesar de se declararem tais)!

Cansei. Cansei mesmo. Agora as pessoas simplesmente não presumem mais boa-fé, honstidade, retidão ou qualquer coisa boa de pessoas que tentam viver sua fé em Cristo. Somos pré-julgados como palhaços idiotas manipulados por sacerdotes descarados só em dizermos "sou evangélico". E nem venham me dizer que somos perseguidos por causa do nome de Jesus! Não somos! Antes fôssemos! Eu tenho a absoluta certeza de que somos perseguidos por culpa nossa e da maioria de pessoas que incharam e hiperlotaram templos sem saber o que o evangelho é; e pior: sem saber quem Cristo é!


Vamos deixar de ser cínicos. Ou imbecis.


Leia agora

Não seja igual