19 janeiro 2010

Haiti: onde está a "poderosa" igreja brasileira?

Por Alan Brizotti


As cenas são chocantes: corpos espalhados pelas ruas, gritos sufocados sob escombros, o desespero por uma garrafa de água. Correria, violência, dor. Imagine, por um momento, o que significa olhar ao redor e perceber que tudo aquilo que você chamava de "vida", acabou. Casas e suas pessoas agora são pó e lembranças. As ruas são apenas a mistura estranha de mortos e destroços. Não encontro outra palavra a não ser: devastação.
Um cinegrafista amador captou o momento em que uma mulher, atônita ao observar as chamas de um prédio destroçado bradou desesperada: "o mundo está acabando!" Paradoxo intrigante: começa um novo ano, acaba o mundo dela. Em lágrimas, procurei por pessoas que nunca conheci. Chorei por crianças que nunca abracei. Tentei encontrar meios para, de alguma forma, minimizar o que é absurdo.
Lembrei de Jeremias em suas Lamentações. A devastação de sua amada terra fez seus olhos derramarem-se em fontes. Chorei pelos haitianos porque somos todos humanos, fronteiras, nomes e "raças" são apenas criações imbecis que abraçamos só para dificultar nossos esforços na convivência. Somos todos filhos do pó, filhos da Mãe Terra, filhos amados do Pai. Chorei não apenas como um brasileiro sentado em seu confortável sofá numa distância segura do caos, mas como um humano aflito cuja mesma distância apenas apavora ainda mais.
Em meio a todo o caos, uma fúria me invadiu: onde está a "poderosa" igreja? Aquela que berra todos os dias na televisão sobre seus poderes para curar, exorcizar e angariar muita grana! Aquela dos mega-pastores, mega-empresários, mega-pregadores, mega-cantores, mega-patifes! Aquela dos endinheirados bispos do poder! Aquela dos magnatas da fé que enganam, distorcem as Escrituras e, sob a fachada do sobrenatural, escravizam mentes ávidas pelo espetáculo!
Vejo uma grande mobilização de governos, entidades não-governamentais, civis, a igreja católica e suas pastorais, mas não vejo nada da Poderosa Igreja Evangélica Brasileira! Pense bem no que vou escrever agora: se essa tragédia não servir para mudar radicalmente os rumos da teologia triunfalista da atualidade no Brasil, descretamos a nossa morte!
Depois das atrocidades da Inquisição e do Nazismo, a teologia cristã experimentou novos rumos, se o Haiti e sua absurda tragédia não nos sacudir os alicerces teológicos, é porque já estamos tão mortos quanto os que entram na crescente estatística macabra do terremoto. Quanto dinheiro as igrejas evangélicas brasileiras movimentam por mês? Quanto se gasta com o luxo miserável dessas "pseudo-elites" tupiniquins travestidas de cristãos?

Assim como hoje julgamos pesadamente a Inquisão e o Nazismo, nos julgarão daqui a alguns anos pelo descaso com a natureza, pela insensibilidade com os que sofrem e pela farsa que toleramos socialmente todos os dias.


Vou chorar mais um pouco...

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